ARGAMASSAS
Os primeiros registros de emprego de argamassa como material de
construção são da pré-história, há cerca de 11.000 anos. No sul da Galiléia, próximo
de Yiftah’el, em Israel, foi descoberto em 1985, quando de uma escavação para abrir
uma rua, o que hoje é considerado o registro mais antigo de emprego de argamassa
pela humanidade: um piso polido de 180 m², feito com pedras e uma argamassa de
cal e areia, o qual se estima ter sido produzido entre 7.000 a.C. e 9.000 a.C.
(European Mortar Industry Organization – EMO, 2006; Hellenic Cement Industry
Association – HCIA, 2006, apud CARASEK,2007).
A argamassa é um material bastante utilizado na construção civil. Suas
principais aplicações em uma edificação são no assentamento de alvenarias
(cerâmicas e de concreto), em revestimentos primários (emboço, reboco), em
contrapisos e no assentamento/rejuntamento de revestimentos cerâmicos.
A definição de argamassa segundo a NBR 13281/2001 é a mistura
homogênea de agregado(s) miúdo(s), aglomerante(s) inorgânico(s) e água,
contendo ou não aditivos ou adições, com propriedades de aderência e
endurecimento, podendo ser dosada em obra ou em instalação própria (argamassa
industrializada).
Do ponto de vista estrutural, a principal função da argamassa é possibilitar a
transferência uniforme das tensões entre as unidades de alvenaria. Isso ocorre
porque a argamassa compensa as irregularidades e as variações dimensionais das
unidades. Além dessa função, deve também unir solidamente as unidades de
alvenaria e ajuda-las a resistir aos esforços laterais. (ROMAN, 1996)
Classificação das argamassas
As argamassas podem ser classificadas de diversas maneiras: quanto à sua
função; quanto ao tipo de aglomerante; quanto à forma de preparo, entre outras.
Quanto à sua função
As argamassas podem ser classificadas de acordo com suas funções, como
mostra o Quadro 1
QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO DAS ARGAMASSAS SEGUNDO AS SUAS FUNÇÕES NA
CONSTRUÇÃO
FONTE: CARASEK (2007)
Argamassa de assentamento
A argamassa de assentamento é caracterizada pela NBR 8798/85 como o
elemento utilizado na ligação entre os blocos de concreto, garantindo distribuição
uniforme de esforços.
Segundo Franco (2000), dentro do conjunto da alvenaria, a argamassa de
assentamento tem várias funções a cumprir. Estas têm sido caracterizadas como:
unir os componentes de alvenaria para que o conjunto seja capaz de resistir diversos
tipos de esforços, distribuir uniformemente as cargas atuantes na parede por toda a
área resistente do bloco, absorver deformações a que a alvenaria estive sujeita, e
selar o conjunto quando a alvenaria for aparente.
Quanto á forma de preparo ou fornecimento
Argamassa preparada em obra: a equipe técnica da obra escolhe os
fornecedores de insumos (areia, cimento, cal), e fornecem a composição
da argamassa para ver se atendem aos requisitos; Mistura semi pronta para argamassa: é composta de uma mistura de cal e
areia. O cimento é adicionado a essa mistura no local da obra. Com uma
aplicação rápida pode ser utilizada tanto para o revestimento quanto para
o assentamento do material; Argamassa industrializada: pelo fato da mistura já vir pronta em sacos ou
a granel, basta adicionar água para que se obtenha argamassa. É
composta por aditivos incorporadores de ar, que contribuem para a
resistência à compressão e trabalhabilidade, que podem variar com o tipo
de misturador ou tempo de mistura; Argamassa dosada em central: são nas argamassas dosadas em central
que são realizados os testes de qualidade dos materiais medindo sua massa e seu volume e sendo misturados em uma betoneira.
(PETRUTTI,2008, apud KLASS;OLIVEIRA, 2012).
Quanto ao tipo de aglomerante
Classificam-se as argamassas de acordo com o tipo de aglomerante que
possuem, segundo Petrutti (2008), as argamassas podem ser classificadas da
seguinte maneira:
Argamassa de cimento: é composta de areia e cimento, possui uma alta
resistência e indica-se para suportar maiores cargas; Argamassa de cal: é uma mistura de areia e cal. Pode ser utilizada cal
hidratada ou cal virgem. Indica-se para obter uma boa trabalhabilidade e
retenção de água, porém apresenta baixa resistência; Argamassa de cimento e cal: é composta de cimento e cal. Devido à
combinação dos dois elementos esta argamassa apresenta-se como uma
mistura mais completa, tendo boa trabalhabilidade e resistência; Argamassa de gesso: composta basicamente de gesso e areia. Utiliza-se
em todos os revestimentos internos da categoria; Argamassa de cal e gesso: é composta de uma mistura de gesso e cal.
Utiliza-se o emprego da cal juntamente na argamassa de gesso no intuito
de protelar o inicio da pega, devido à propriedade da cal de reter água.
Argamassa de base cimentícia
A argamassa no geral é constituída por agregado(s) miúdo(s),
aglomerante(s) e água. No caso da argamassa de base cimentícia, o aglomerante
utilizado é o Cimento Portland. Costuma-se adicionar outros materiais, como a cal,
para a obtenção de propriedades especiais na argamassa cimentícia. Quando a
argamassa é industrializada, utilizam-se os aditivos.
Argamassa de base química
É um produto de última geração que representa a modernidade nos
processos construtivos. É uma massa à base de compostos minerais e aditivos
especiais para imediata colagem e endurecimento de superfícies. Quando distribuída
uniformemente sobre o bloco de concreto, argiloso, cerâmico ou outro similar,
confere alto grau de resistência na colagem e aderência. Devido a sua consistência
pastosa, é indicada para aplicações em superfícies verticais e horizontais. Não
necessita adição de água e nem outros componentes como cimento, cal e areia.
(COLABLOCO,2013)
Propriedades das argamassas
Para que a argamassa desempenhe corretamente suas funções na
edificação, é importante atentar-se para as suas propriedades tanto no estado fresco
como no estado endurecido. No estado fresco as propriedades que devem ser
observadas são a trabalhabilidade, a retenção de água e aderência inicial. No
estado endurecido é importante que a argamassa apresente resistência mecânica,
aderência, resiliência (capacidade de absorver deformações), durabilidade e
retração na secagem.
Propriedades no estado endurecido
Resiliência (capacidade de absorção e deformações)
No sentido restrito do termo, a resiliência ou elasticidade de uma argamassa
é a capacidade que ela possui de se deformar sem apresentar ruptura quando
sujeita a solicitações diversas e de se retornar à dimensão original quando cessam
estas solicitações. No entanto, este sentido é estendido, no caso de argamassas,
para o estado tal de deformação (plástica) em que a ruptura ocorre sob a forma de
fissuras microscópicas ou capilares não prejudiciais. (MOTA,2001)
Para Carasek (2007) as deformações podem ser de grande ou de pequena
amplitude. O revestimento só tem a responsabilidade de absorver as deformações
de pequena amplitude que ocorrem em função da ação da umidade ou da
temperatura e não as de grande amplitude, provenientes de outros fatores, como
recalques estruturais, por exemplo.
Resistência mecânica
A resistência à compressão das argamassas se inicia com o endurecimento
e aumenta continuamente com o tempo. As argamassas exclusivamente de cal e
areia desenvolvem uma resistência pequena e de maneira lenta e cujo valor
depende muito da umidade apropriada e da adequada absorção do dióxido de
carbono do ar para ser atingida. Ao contrário, as argamassas de cimento dependem
menos das condições ambientais, para desenvolver a resistência à compressão
esperada. (MOTA,2001)
Segundo ROMAN (1996), a argamassa deve ser resistente o suficiente para
suportar os esforços a que a parede será submetida. Por outro lado, não deve
exceder a resistência das unidades, de maneira que possa absorver as
movimentações que venham ocorrer devido a expansões térmicas ou a outros
movimentos da parede.
Retração
A retração ocorre devido à perda rápida e acentuada da água de
amassamento e pelas reações na hidratação dos aglomerantes, fatos que provocam
as fissuras nos revestimentos. As argamassas ricas em cimento apresentam
maiores disponibilidades para o aparecimento de fissuras durante a secagem.
(BARBOSA DOS SANTOS, 2008)
Aderência
Mota (2001) define a resistência de aderência como a capacidade que a
interface componente-argamassa possui de absorver tensões tangenciais
(cisalhamento) e normais (tração) a ela, sem romper-se. Desta resistência depende
a monolicidade da parede e a resistência da alvenaria frente a solicitações
provocadas por: deformações volumétricas (por exemplo: retração hidráulica e
dilatação térmica); carregamento perpendiculares excêntricos; esforços ortogonais à
parede (carga do vento); etc.
Conceitua-se a capacidade de aderência da argamassa, para uma
determinada base como sendo a capacidade que ela tem de fazer com que a
interface entre ambas apresente uma certa resistência de aderência. (MOTA,2001)
Durabilidade
A durabilidade é uma propriedade do período de uso do revestimento no
estado endurecido e que reflete o desempenho do revestimento frente às ações do
meio externo ao longo do tempo. Alguns fatores prejudicam a durabilidade dos
revestimentos, tais como: fissuração, espessura excessiva, cultura e proliferação de
microorganismos, qualidade das argamassas e a falta de manutenção. (MACIEL;
BARROS; SABBATINI, 1998)